Consumo Colaborativo: Viabilidade de um Produto Digital para o Compartilhamento de Bicicletas em Fortaleza, Ceará.

Síntese do projeto

O projeto foi concebido por três Designers de Produtos com formação inicial em arquitetura e urbanismo, buscando viabilizar um produto digital direcionado para a mobilidade urbana ativa. Esse impulso originou-se do grupo de pesquisa Transportes e Uso do Solo no Planejamento Integrado (TUPI), originado na Universidade de Fortaleza (UNIFOR).

Dessa forma, buscamos validar, por meio de pesquisa, a hipótese que tínhamos sobre a necessidade de um produto digital voltado para o aluguel de bicicletas particulares. Nesse processo, nos aprofundamos em diversos conteúdos acadêmicos e não acadêmicos, conduzindo várias pesquisas na tentativa de fundamentar nossa ideia.

Como resultado, constatamos a invalidação da nossa hipótese inicial. No entanto, durante esse processo, emergiram outros insights que podem ser valiosos para o aprimoramento do serviço de compartilhamento de bicicletas na cidade de Fortaleza.

Contextualização

Como você acha que o consumo colaborativo pode contribuir para a mobilidade sustentável? Qual você acha que foi o impacto dos serviços de compartilhamento no Brasil?

Nos últimos anos, o “consumo colaborativo” se tornou global, promovendo a sustentabilidade ao compartilhar produtos e serviços. O uso compartilhado, impulsionado por benefícios econômicos e consciência socioambiental, é uma estratégia para disseminar a Mobilidade como um Serviço (MaaS).

Apesar do sucesso internacional, o sistema compartilhado, exemplificado pelo Bicicletar em Fortaleza, enfrenta desafios no Brasil, revelando falhas que impedem sua expansão. Estudos mostram que serviços compartilhados no país impactam positivamente na redução do tráfego de carros e incentivam a mobilidade ativa, resultando na compra de bicicletas próprias por parte dos usuários.

O Bicicletar, inaugurado em 2014, obteve sucesso ao integrar-se ao Bilhete Único (cartão de crédito pré-pago para o transporte coletivo) e oferecer infraestrutura eficiente. Fatores como valor ecológico, satisfação do cliente e prazer são mediadores entre a qualidade do serviço e a lealdade do cliente. Questões climáticas, distâncias e características do uso do solo também influenciam na lealdade dos usuários.

Os próximos tópicos abordarão pesquisas e soluções digitais para compreender os usuários e aprimorar a mobilidade urbana com bicicletas, explorando dados sobre perfil, necessidades e preferências. A análise visa entender como a tecnologia pode contribuir para uma locomoção mais eficiente, sustentável e alinhada às demandas urbanas.

Objetivo da pesquisa

Nossa investigação partiu da vontade de entender se existia a necessidade de outros serviços de compartilhamento de bicicletas na cidade de Fortaleza, para isso nosso objetivo geral foi conhecer o cenário da mobilidade urbana ativa voltada para bicicletas na cidade, para validar a criação de um produto digital de aluguel de bicicletas particulares.

Para isso, buscamos:

  • Entender como funciona o modelo de aluguel de bicicletas a nível regional, nacional e internacional, a fim de estabelecer padrões de utilização;
  • Analisar a aceitação do atual sistema de compartilhamento de bicicletas da cidade, o BICICLETAR;
  • Conhecer os usuários desse modelo de transporte;
  • Buscar entender a viabilidade de um produto digital para solucionar dores relacionadas ao compartilhamento de bicicletas.

Análise de competidores

Com o objetivo de conhecer e nos aprofundar nos produtos existentes, fizemos uma análise de três plataformas de compartilhamento de bicicletas, seja ela de frota pertencente a empresas ou bicicletas particulares. Esse estudo foi feito em escala local, nacional e internacional. Sendo eles:

  • Bicicletar: Aplicativo para o compartilhamento de bicicletas utilizado na cidade de Fortaleza;
  • Pedale: Plataforma nacional de aluguel de bicicletas que oferece interação direta entre o dono da bicicleta e quem deseja pedalar;
  • Donkey Republic: Plataforma disponível em vários países da Europa, que possui diversas bicicletas próprias para compartilhamento.


A seguir temos uma tabela com o resumo dessas três plataformas e após uma análise mais completa sobre cada um deles.

Bicicletar - Local

O Bicicletar é um serviço de compartilhamento de bicicletas em Fortaleza, resultado de uma parceria entre a Prefeitura da cidade e a empresa Unimed Fortaleza. Possui estações distribuídas por diversos bairros e é o principal serviço em operação na cidade. O usuário pode alugar bicicletas por meio de um aplicativo, que oferece opções de planos diários, mensais e anuais. É necessário devolver a bicicleta a uma estação após 1 hora de utilização, aguardando 15 minutos para retirar outra. Além dos planos pagos, existe um passe gratuito associado a carteirinhas estudantis e ao Bilhete Único (cartão de crédito pré-pago para o transporte coletivo).

Analisando o fluxo de cadastro e aluguel de bicicletas foram encontrados alguns problemas, como relacionados ao cadastro e como redirecionamento do usuário a páginas web, se tornando uma barreira para usuários com menos habilidade com tecnologia. As páginas web também apresentam pontos de atenção principalmente relacionados à responsividade, devido a elas não se adaptarem corretamente ao dispositivo que o usuário utiliza.

Após o cadastro, o aplicativo exibe um mapa com as estações próximas e permite dar zoom para visualizar todas as estações em Fortaleza. Na tela, há botões para alugar ou reservar uma bicicleta. Após a verificação de identidade, que pode levar alguns dias, é possível começar a usar o aplicativo Bicicletar adquirindo um passe para retirar as bicicletas.

Pedale - Nacional

A Pedale é uma plataforma brasileira de aluguel de bicicletas, promovendo a interação direta entre anunciantes (donos das bicicletas) e ciclistas (usuários). Os anunciantes criam anúncios das bicicletas disponíveis para locação por diárias, visíveis para qualquer pessoa no site. Os ciclistas podem fazer buscas, reservas, pagamentos e conversas com os anunciantes pelo chat, tudo dentro da plataforma. O valor mínimo de diária é R$15,00, e a taxa da plataforma é de 23%.

Durante a análise, foram identificados pontos fortes, como a possibilidade de pesquisa e filtragem sem a necessidade de cadastro, mas também pontos fracos, como a falta de um aplicativo, restrição de cadastro de bicicletas para os anunciantes e a ausência de seguro para as bicicletas.

Donkey Republic - Internacional

O Donkey Republic é um produto de mobilidade urbana presente em várias cidades da Europa e nos EUA. Anteriormente, pessoas física ou lojas podiam registrar bicicletas no aplicativo, mas atualmente a empresa possui sua própria frota de bicicletas. Os aluguéis são feitos por meio da compra de pontos com cartão de crédito ou PayPal, e são oferecidos três tipos de aluguel:

  • Just Ride (por minutos);
  • Membership (mensalidade com aluguel sem limite de tempo) e
  • Day Deal (taxa fixa por horas pré-determinadas).


Os usuários escolhem um ponto de “drop off” (estações ou áreas onde as bicicletas ficam estacionadas e trancadas), selecionam a bicicleta desejada e iniciam o processo de aluguel. A devolução pode ser feita em qualquer outro ponto disponível. Durante a análise, foram identificadas características como a visualização das bicicletas disponíveis nas proximidades, diferenciação para pontos de entrega e um sistema de carteira para facilitar os pagamentos.

Validação da ideia

Uma pesquisa foi realizada no período de setembro a dezembro de 2021, representando um estudo sobre pontos de dor, necessidades e desejos de pessoas usuárias acerca do consumo colaborativo e do compartilhamento de bicicletas na cidade de Fortaleza. Ela foi composta por três fases, sendo:

  • Primeira fase: Criou-se uma série de estratégias para identificar os principais temas que a pesquisa abordaria, bem como identificar principais características das possíveis usuários;
  • Segunda fase: Consistiu em entrevistas para conhecer cada tipo de usuário mais à fundo, através de conversas com temas pré-estabelecidos;
  • Terceira fase: Foi aplicado um questionário para cada tipo de usuário, com o objetivo de validar hipóteses e identificar oportunidades.

Matriz CSD

Com entendimento acerca do cenário do consumo colaborativo e do compartilhamento de bicicletas no Brasil e em Fortaleza, realizamos uma dinâmica para reunir o que foi descoberto a partir dos materiais analisados e levantamos suposições e dúvidas para nortear os próximos passos, onde foi montada uma Matriz de Certezas, Suposições, Dúvidas (CSD). As principais dúvidas e suposições giraram em torno da prática de aluguel de bicicletas, tanto sob a perspectiva do locador quanto do locatário.

Matriz CSD

Com a Matriz CSD completa, foram determinadas estratégias para buscar entender os principais pontos tratados na dinâmica. Por se tratar de um estudo de um novo produto, foi decidido que abordar primeiramente entrevistas em profundidade seria mais adequado para coletar o máximo de informações possíveis. Inicialmente, elaboramos o perfil preliminar dos potenciais usuários para orientar esse processo.

Usuários

Para a delimitação das pessoas usuárias foram criadas proto-personas, que são um conjunto de informações que a equipe acredita representar as características dos usuários com base nas pesquisas realizadas. Essa etapa serviu como suporte, principalmente, para a atividade de recrutamento e seleção de pessoas para as entrevistas, pois a partir dela selecionamos quem corresponderia a um dos três perfis delimitados.


Foram identificados três principais perfis de pessoas usuárias:

  1. Pessoa Locatária: quem costuma alugar bicicleta;
  2. Pessoa Locadora: quem já alugou ou pretende alugar a sua própria bicicleta para outras pessoas;
  3. Empresa locadora: um empreendimento, loja ou quiosque que possui serviço de aluguel de bicicletas.

Com isso levantamos as responsabilidades diárias e características, as frustrações e os objetivos e necessidades que esses usuários poderiam ter.


Além disso, também conduzimos um método de proto-jornada. Esse procedimento tem como objetivo determinar uma jornada para o usuário e levantar suas ações, o que ele faz durante a locação, o que ele pensa, o que ele sente e as possíveis oportunidades a partir desse levantamento. Desse modo, teríamos como saber os pontos mais problemáticos da jornada da pessoa usuária e agir para tentar mitigá-los.

As informações obtidas por meio das proto-personas foram fundamentais para orientar o recrutamento dos participantes das entrevistas. Elas nos ajudaram a compreender as responsabilidades, características, frustrações, objetivos e necessidades dos usuários, proporcionando valiosos insights. Esses insights foram essenciais para estruturar as perguntas das entrevistas com os usuários e direcionar o desenvolvimento da pesquisa de forma mais eficiente.

Entrevistas

Para conduzir as entrevistas em profundidade, desenvolvemos um breve roteiro com perguntas específicas, dividido em três blocos distintos, cada um adaptado para atender às características de diferentes personas. Parte das entrevistas foi realizada remotamente, utilizando a plataforma do Google Meet, enquanto a outra parte ocorreu presencialmente. As divisões por persona foram delineadas com base em Pessoas locatárias, Pessoa locadora e Empresa locadora.

1. Pessoa locatária: Foram entrevistadas três pessoas que costumam utilizar o sistema de compartilhamento de bicicletas na cidade de Fortaleza. Com essa pesquisa tínhamos o objetivo de nos aprofundarmos mais nesse público, conhecer os motivos do uso das bicicletas compartilhadas e quais os principais problemas encontrados nesse serviço.

Para realização da pesquisa algumas hipóteses foram levantadas, como as presentes no quadro a seguir. Porém algumas delas não foram validadas e surgiram alguns insights a partir disso.

Matriz Locatário

Foi possível observar que:

  • O uso mais constante é para lazer e não para trabalho;
  • Usuários costumam utilizar o sistema do Bicicletar;
  • Por mais que conheçam outros serviços de compartilhamento, não os utilizam;
  • Somente 1 dos 3 entrevistados possuem bicicleta própria;
  • Não utilizam equipamentos de segurança;
  • Possuem dificuldades com o aluguel de bicicletas.

 

Outros dados obtidos foram:

  • A frequência de utilização é maior no período da noite;
  • Optam por usar o Bicicletar por facilidade, comodidade, economia de custos, podem pegar uma bicicleta quando quiserem;
  • Costumam utilizar ciclovias ou ciclofaixas;
  • Utilizam o Bicicletar pois os problemas não os impactam de forma tão significativa.

2. Pessoa Locadora: Nas entrevistas com possíveis locadores foram entrevistadas seis pessoas que possuem bicicleta própria. O objetivo era validar a disponibilidade de locação desses equipamentos e saber como seriam suas primeiras reações a essa possibilidade.

Desse modo, foram feitas perguntas para conhecer melhor esses usuários, sobre o uso da bicicleta e para finalizar sobre o compartilhamento desses equipamentos. Dentre as hipóteses levantadas, tivemos algumas validações e algumas invalidações, como as mostradas no quadro a seguir:

A partir disso foi possível observar que:

  • Maioria dos usuários utilizam suas bicicletas para deslocamentos causais ou para lazer;
  • Maioria utiliza equipamentos de proteção individual ou equipamentos de segurança nas bicicletas;
  • Quase todos conhecem o conceito de economia compartilhada;
  • Apenas dois dos seis entrevistados já tentaram alugar suas bicicletas;
  • Três dos seis entrevistados disseram que alugariam suas bicicletas.

 

Além disso, foi possível se ter outras percepções importantes dessas entrevistas, sendo elas:

  • Pandemia mudou hábitos de mobilidade por bicicleta;
  • Acham mais vantajoso ter a bicicleta própria pela liberdade de uso;
  • Para a maioria não é um problema guardar a bicicleta onde mora;
  • Eles acham os custos para manutenção da bicicleta baixos;
  • A maioria dos entrevistados criticam alguns aspectos do Bicicletar, por exemplo: Falta de bicicleta na estação; disponibilidade e distribuição de estações; problemas mecânicos da bicicleta; problemas no aplicativo; limitações de tempo;
  • É necessário tornar o aluguel atrativo financeiramente.
  • As pessoas geralmente emprestam para amigos ou conhecidos por questões de confiança;
  • Pessoas com mais bicicletas, têm uma maior probabilidade de alugar;
  • Algumas pessoas não querem alugar a bicicleta por terem apego sentimental.

3. Empresa locadora: Na cidade de Fortaleza, além do serviço oferecido pelo aplicativo do Bicicletar também existem lojas e quiosques que fazem o aluguel de bicicletas. Com isso, fomos presencialmente a três desses locais. O primeiro deles é uma loja que presta outros serviços além do aluguel, como organização de passeios noturnos, conserto e vendas de bicicletas; os outros dois são quiosques que alugam bicicletas na orla da cidade.

Gostaríamos de conhecer sobre o negócio, sobre o funcionamento do aluguel e o público alvo desses serviços. A partir disso teríamos uma base de comparação com o Bicicletar e saberíamos o que pessoas físicas podem oferecer ao se disporem a alugar suas próprias bicicletas.

A maioria das hipóteses foram validadas, como é visto no quadro a seguir. Contudo, várias outras informações foram coletadas e possibilitaram o conhecimento de outros fatores que influem no aluguel desses equipamentos.

Por meio da matriz é possível inferir que:

  • O início do aluguel foi dado pelo aumento da demanda;
  • Está incluso no aluguel equipamentos de proteção individual e equipamento de segurança;
  • O controle de quem aluga é feito manualmente;
  • Não existe rastreamento das bicicletas alugadas.

 

Além desses, outros pontos devem ser levados em consideração, como:

  • É necessário permissão da prefeitura para alugar bicicletas na orla;
  • O horário de funcionamento varia conforme o funcionamento de cada local;
  • O valor pode ser negociado com os clientes;
  • O aluguel não é burocrático;
  • 2 dos 3 entrevistados não fazem aluguel na diária;
  • 1 dos 3 entrevistados já tiveram prejuízo com o furto de bicicletas;
  • Os valores podem variar conforme o tipo de bicicleta;
  • Os clientes são usuários para lazer ou usuários para esporte;
  • Os clientes podem ser locais ou turistas.

Pesquisas Quantitativas

Com os resultados da fase de entrevistas em profundidade, conseguimos validar algumas das certezas, suposições e dúvidas que reunimos durante a etapa da Matriz CSD, ao passo que novas indagações surgiram decorrentes das conversas com as pessoas entrevistadas. Para tanto, decidimos adicionar mais uma etapa de pesquisa, desta vez através de uma survey, para dar relevância numérica às percepções das entrevistas.

Um questionário foi aplicado para moradores da cidade de Fortaleza através da plataforma Google Forms. Foram coletadas 126 respostas, distribuídas entre quatro tipos de perfis:

Pessoas que utilizam sistemas de compartilhamento

Dos 20 entrevistados que utilizam sistemas de compartilhamento de bicicletas, 16 optam pelo serviço Bicicletar. Apenas quatro entrevistados escolhem alugar bicicletas diretamente de pessoas ou empresas particulares. A preferência pelo Bicicletar pode ser atribuída à sua conveniência, preço acessível e disponibilidade, conforme destacado pelos participantes. No entanto, é relevante observar que os entrevistados expressaram certa insatisfação com o serviço atual, conforme indicado no segundo gráfico abaixo.

Dos entrevistados, oito afirmaram utilizar o serviço de compartilhamento de bicicletas pelo menos duas vezes por semana, enquanto outros oito o utilizam uma vez por mês ou com uma frequência ainda menor. Dois participantes utilizam o serviço de duas a cinco vezes por semana, e apenas um entrevistado faz uso diário do sistema. Esses dados podem ser melhor compreendidos ao analisar o gráfico que apresenta os motivos pelos quais as pessoas utilizam o sistema de compartilhamento: dezessete respondentes indicaram o lazer como principal motivo, enquanto quatro utilizam o serviço para deslocamento regular.

Na última pergunta foi realizada uma coleta qualitativa, onde os usuários foram perguntados sobre as suas experiências com o compartilhamento de bicicletas na cidade de Fortaleza. A maioria das respostas se referiam diretamente ao Bicicletar.

Com isso, conseguimos tirar algumas conclusões acerca da experiência dos usuários que utilizam sistemas de compartilhamento:

Pessoas que possuem a própria bicicleta

Nessa categoria de pesquisa, nosso objetivo foi compreender o contexto do uso de bicicletas particulares em Fortaleza e explorar a receptividade ao compartilhamento de bicicletas. Recebemos respostas de 71 participantes, revelando que eles utilizam suas próprias bicicletas para três finalidades principais: como forma de lazer (43 respostas), para deslocamentos diários (41 respostas) e como atividade física (41 respostas).

No que diz respeito aos acessórios e equipamentos de proteção individual, observamos que 44 ciclistas possuem sinalização noturna e 43 deles afirmaram possuir capacete. Além disso, outros itens mencionados incluem buzina (12 pessoas), cesta de transporte (8 pessoas) e espelho retrovisor (4 pessoas). No entanto, é importante ressaltar que 13 ciclistas afirmaram não possuir equipamentos e/ou acessórios de proteção individual.

Quando perguntados se já tentaram alugar ou alugaram as suas bicicletas para terceiros, 93% (66 pessoas) afirmaram nunca ter alugado ou tentado alugar, ao passo que apenas três pessoas já alugaram e uma única pessoa já tentou alugar. Isso revela que não existe uma real necessidade e/ou interesse de donos de bicicletas em alugá-las para outras pessoas.

Pessoas que possuem a própria bicicleta e que também utilizam sistemas de compartilhamento

Das 18 respostas obtidas nesta categoria, todos os ciclistas afirmaram utilizar o serviço de compartilhamento de bicicletas Bicicletar. A frequência de uso varia, com seis pessoas utilizando menos de uma vez por mês, sete pessoas utilizando pelo menos uma vez por mês e duas pessoas utilizando até duas vezes por semana. Apenas uma pessoa utiliza o Bicicletar com frequência superior a duas vezes por semana, enquanto outra pessoa utiliza o serviço diariamente ao longo da semana.

Ao avaliar o serviço do Bicicletar, notamos que os ciclistas que utilizam o compartilhamento de bicicletas e possuem sua própria bicicleta apresentam maior insatisfação em comparação aos ciclistas que utilizam apenas os sistemas de compartilhamento, conforme mostrado no gráfico abaixo. Esses dados destacam a importância de aprimorar o serviço do Bicicletar para atender melhor às expectativas e necessidades dos ciclistas que possuem bicicletas próprias.

Quando analisamos as respostas dos motivos para utilizar os sistemas de compartilhamento de bicicletas, é possível entender as razões que levam os ciclistas a, muitas vezes, optarem por não utilizarem as suas próprias bicicletas. Observando o gráfico acima, em relação ao preço do serviço eles se mostram muito satisfeitos. Isso acontece devido ao fato de que, mesmo possuindo a própria bicicleta, eles vêem vantagens na comodidade oferecida pelo Bicicletar, aliada ao baixo preço:

"[...] ajuda muito para trajetos curtos para locais onde você não conseguiria ‘estacionar’ a própria bicicleta."

Conclusão

Por meio dos dados obtidos durante as pesquisas quantitativas e qualitativas, constatou-se que a ideia inicial de criação de um novo serviço para mobilidade ativa de bicicletas em Fortaleza não foi validada. Diversos fatores contribuíram para esse resultado, entre eles:

  1. Baixa adesão dos usuários a outros serviços de compartilhamento de bicicletas, mesmo que estejam cientes de sua existência;
  2. Os serviços oferecidos pelo Bicicletar são preferidos pelos usuários devido à sua comodidade, preço acessível e atendimento às necessidades de locomoção;
  3. Os problemas enfrentados pelo sistema não afetam os usuários de forma significativa;
  4. Os usuários estão altamente satisfeitos com o valor oferecido pelo Bicicletar.
  5. O sistema é predominantemente utilizado para fins de lazer, não havendo uma real necessidade ou interesse dos proprietários de bicicletas em alugá-las para terceiros.

 

Considerando os dados obtidos, percebe-se que, para um novo serviço competir efetivamente com o existente, é crucial que ele seja financeiramente atraente e capaz de mitigar os problemas associados ao sistema atual. A distribuição estratégica das estações pela cidade também se destaca como um aspecto relevante. Vale ressaltar que a hipótese de que os proprietários de bicicletas desejam ou necessitam alugá-las para outras pessoas foi refutada, contradizendo as proto-personas e proto-jornadas desenvolvidas neste estudo.

Com base nesses insights, sugere-se que aprimoramentos nos serviços do Bicicletar, como a implementação de novas estações na cidade, aprimoramento nos equipamentos disponibilizados e melhorias no processo de cadastro, poderiam resultar em uma maior satisfação dos usuários. Isso evidencia que a qualidade e a conveniência são fatores críticos na escolha dos consumidores e podem ser determinantes para o sucesso de um serviço de compartilhamento de bicicletas.

Dessa forma, para dar continuidade ao processo, é necessário revisar a hipótese inicial e conduzir novos estudos para pesquisar e validar um novo modelo de produto. É essencial realizar uma análise aprofundada das necessidades e preferências dos usuários no novo modelo, bem como considerar outras abordagens e possibilidades para desenvolver um serviço que atenda às demandas do mercado de mobilidade ativa em Fortaleza.